
30 anos atrás você podia ser médico, engenheiro, advogado e ter no máximo outras 10 opções de carreira. Hoje, com tantos avanços, existem centenas de novos cursos e outras tantas possibilidades de atuação para cada formação. No passado, quando as alternativas eram menores, o jovem era obrigado a esperar pelo menos 4 anos para concluir o curso superior e começar a se envolver em projetos que realmente o estimulassem. Agora, o próprio mercado disponibiliza diversas opções.
Juntamente com a inquietação desta geração, a proliferação das profissões faz com que o jovem tenha a impressão de estar “perdendo tempo” com escolhas erradas, resultando na troca de emprego inúmeras vezes e sem concluir nenhum ciclo de aprendizado. “É um padrão que forma profissionais incompletos, com conhecimentos superficiais e nenhum tipo de especialização”, diz Tiago Mavichian, diretor da Companhia de Estágios.
Consultorias de recrutamento estão cada vez mais acostumadas a este padrão de currículos com passagem de 3 meses em uma empresa, 9 em outra e 6 em uma terceira. E na hora da entrevista a justificativa vaga, é basicamente a mesma: “não tinha mais o que aprender” ou “sai porque queria algo novo”. A facilidade de mudar de ideia e experimentar outras alternativas, acabam estimulando ainda mais essa busca frenética por satisfação imediata já na primeira experiência profissional, um erro cada vez mais frequente e que pode comprometer o futuro do candidato. “Permaneça no emprego no mínimo por 12 meses, antes de experimentar o próximo”, aconselha. “E lembre-se que, em algum momento, você vai precisar escolher uma área e se dedicar realmente a ela”.
Ainda segundo Tiago, “O que não é rápido não serve para o jovem, como a tecnologia está sempre na palma da mão, ele se acostumou a ter informações imediatas, a ter respostas imediatas, o que acaba se estendendo para como enxerga a carreira”. Uma vez tendo sua expectativa contrariada, abandona tudo e parte para a próxima. Sem saber ao menos justificar sua alternância de emprego com um argumento plausível, como salário ou localização, por exemplo. Não há nada de errado em experimentar, mudar de ideia ou perseguir áreas de atuação que tenham a ver com os seus interesses. O movimento é bem-vindo, só é preciso cuidar do ritmo.
Por conta da crise econômica, muitos jovens são forçados a permanecer mais tempo no emprego atual, o que pode fazer com que se transformem em um insatisfeito crônico, perdendo motivação e desperdiçando oportunidades de desenvolvimento. Porém é preciso aceitar que nem sempre a rotina no trabalho será agradável. Na visão de Eduardo Ferraz, consultor de gestão de pessoas, o segredo está em alternar sua percepção das dificuldades e passar a ver a “tarefa chata” como etapa de um processo que terá com objetivo sua felicidade. Segundo ele inclusive, a própria ideia de felicidade precisa ser revista. “O jovem está muito acostumado a ver falsas representações de felicidade nas redes sociais e acaba fazendo comparações que o deixam muito insatisfeito”. O contentamento com a profissão não depende “de acertar o alvo”, mas sim de fazer descobertas sobre as suas próprias fontes de prazer no trabalho.